CEV- 01-10-20
ESE - Cap. XVI – NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A
MAMON.[1]
Salvação dos
ricos – Guardai-vos da avareza – Jesus em casa de Zaqueu – Parábola do mau rico
– Parábola dos talentos – Utilidade providencial da fortuna – Provas da riqueza
e da miséria – Desigualdade das riquezas – Instruções dos Espíritos: A
verdadeira propriedade – Emprego da riqueza – Desprendimento de bens terrenos –
Transmissão da riqueza.
Item
8 – Desigualdade das riquezas.[2]
A
desigualdade de riqueza é um dos problemas cuja solução se tenta em vão, desde
que só se considere a existência atual. A primeira questão que se apresenta é
esta: por que todos os homens não são igualmente ricos? Por uma razão muito
simples: é que não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para
adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. Aliás, é uma questão matematicamente
demonstrada que, repartida por igual, a fortuna daria a cada uma parte mínima e
insuficiente; que supondo se fizesse uma tal distribuição, em pouco tempo
estaria rompido o equilíbrio pela diversidade de caracteres e de aptidões.
Supondo-a possível e duradoura, tendo cada um apenas o necessário para viver,
teríamos como resultado a paralisação de todos os grandes trabalhos que
concorrem para o progresso e bem estar da Humanidade; que, admitido desse ela a
cada um necessário; já não haveria o aguilhão que impele os homens às
descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos,
é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as
necessidades.
Isto
posto, perguntar-se-á por que Deus a concedeu a pessoas incapazes de fazê-la
frutificar para o bem de todos. É ainda uma prova da sabedoria e da bondade de
Deus. Dando ao homem o livre-arbítrio, quis que chegasse por sua própria
experiência a distinguir o bem do mal, e que a prática do bem fosse o resultado
de seus esforços e de sua própria vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente
ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e
irresponsável como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar
moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o
progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que a
muda incessantemente de dono. Cada um deve possuí-la para experimentar o seu
uso e demonstrar o emprego que lhe sabe dar.
Mas
como há a impossibilidade material que todos a tenham ao mesmo tempo, e como
por outro lado, se todos a possuíssem ninguém trabalharia e o melhoramento do
globo sofreria consequências, cada um possui a seu turno, aquele que hoje não a
possui, a possuiu ou possui-la-á em outra experiência, e aquele que não a tem
agora poderá adquiri-la amanhã. A ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como
é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a
sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a
prova da caridade e da abnegação.
Lamenta-se
com razão, o mau uso que algumas pessoas fazem da sua fortuna, as ignóbeis
paixões que a cobiça desperta, e pergunta-se se Deus é justo, ao dar a riqueza
a tais pessoas. É claro que se o homem só tivesse uma existência, nada justificaria
semelhante repartição dos bens terrenos; mas, se em lugar de limitar sua vida
ao presente, considerar-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se
equilibra com justiça. O pobre não tem, portanto, motivos para acusar a providência,
como para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se
abusam, não será com decretos ou leis suntuárias eu se remediará o mal. As leis
podem de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem
elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada.
A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão
por si mesmos, quando os homens se dirigirem pela lei da caridade.[3]
Nenhum comentário:
Postar um comentário