quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Desigualdade das riquezas

 

CEV- 01-10-20

ESE -  Cap. XVI – NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON.[1]

Salvação dos ricos – Guardai-vos da avareza – Jesus em casa de Zaqueu – Parábola do mau rico – Parábola dos talentos – Utilidade providencial da fortuna – Provas da riqueza e da miséria – Desigualdade das riquezas – Instruções dos Espíritos: A verdadeira propriedade – Emprego da riqueza – Desprendimento de bens terrenos – Transmissão da riqueza.

 

Item 8 – Desigualdade das riquezas.[2]

A desigualdade de riqueza é um dos problemas cuja solução se tenta em vão, desde que só se considere a existência atual. A primeira questão que se apresenta é esta: por que todos os homens não são igualmente ricos? Por uma razão muito simples: é que não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para conservar. Aliás, é uma questão matematicamente demonstrada que, repartida por igual, a fortuna daria a cada uma parte mínima e insuficiente; que supondo se fizesse uma tal distribuição, em pouco tempo estaria rompido o equilíbrio pela diversidade de caracteres e de aptidões. Supondo-a possível e duradoura, tendo cada um apenas o necessário para viver, teríamos como resultado a paralisação de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e bem estar da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um necessário; já não haveria o aguilhão que impele os homens às descobertas e aos empreendimentos úteis. Se Deus a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente, de acordo com as necessidades.

Isto posto, perguntar-se-á por que Deus a concedeu a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. É ainda uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando ao homem o livre-arbítrio, quis que chegasse por sua própria experiência a distinguir o bem do mal, e que a prática do bem fosse o resultado de seus esforços e de sua própria vontade. Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais. A riqueza é um meio de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo tempo improdutiva, pelo que a muda incessantemente de dono. Cada um deve possuí-la para experimentar o seu uso e demonstrar o emprego que lhe sabe dar.

Mas como há a impossibilidade material que todos a tenham ao mesmo tempo, e como por outro lado, se todos a possuíssem ninguém trabalharia e o melhoramento do globo sofreria consequências, cada um possui a seu turno, aquele que hoje não a possui, a possuiu ou possui-la-á em outra experiência, e aquele que não a tem agora poderá adquiri-la amanhã. A ricos e pobres, porque sendo Deus justo, como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno. A pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação.

Lamenta-se com razão, o mau uso que algumas pessoas fazem da sua fortuna, as ignóbeis paixões que a cobiça desperta, e pergunta-se se Deus é justo, ao dar a riqueza a tais pessoas. É claro que se o homem só tivesse uma existência, nada justificaria semelhante repartição dos bens terrenos; mas, se em lugar de limitar sua vida ao presente, considerar-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça. O pobre não tem, portanto, motivos para acusar a providência, como para invejar os ricos e estes para se glorificarem do que possuem. Se abusam, não será com decretos ou leis suntuárias eu se remediará o mal. As leis podem de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais desenfreada. A fonte do mal está no egoísmo e no orgulho. Os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos, quando os homens se dirigirem pela lei da caridade.[3]



[1] O LIVRO DE ALLAN KARDEC – toda obra editada em um único volume – Opus Editora Ltda – SP – O Evangelho Segundo o Espiritismo, p. 612.

[2] Idem, item 8 - p. 616.

[3] Idem.

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